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"Emília" da Salada

Você está no centro da cidade, andando pelas ruas, enfrentando o calor da tarde, o estresse cotidiano, o barulho que vem de todos os lados. Nada além do normal, carros e pessoas apressadas e, é claro, os ambulantes que dominam as calçadas vendendo um mundo de artigos em suas banquinhas.

 

De repente algo chama a sua atenção. Alguém vendendo salada de frutas. Mas o que realmente atrai os olhares não é a salada, mas sim quem a vende. Vestida com uma roupa colorida, de maquiagem forte e um par de óculos para arrematar a produção, lá está a Emília da salada fazendo a alegria do público.

 

À primeira vista, Maria Fernandes pode parecer parte de alguma apresentação teatral, ou alguém divulgando alguma loja infantil, mas atrás daquele sorriso, ela esconde os sofrimentos que enfrentou na vida. Apesar de esbanjar felicidade, Maria já passou por diversas situações difíceis. Na juventude, envolveu-se com um caminhoneiro e com ele teve um filho, chamado Daniel. Mas o pai da criança foi embora e nunca mais entrou em contato com ela, que teve que registrar o filho usando apenas o próprio nome. Mesmo com a ajuda da justiça para tentar reencontrar o pai de seu filho, ele nunca mais foi localizado.

 

Há ainda o preconceito, as humilhações aguentadas dia após dia, Maria sofre constantemente com pessoas que querem interferir em seu trabalho. Ela diz que sua situação não é a ideal, pois atrapalha o fluxo de pessoas que circulam pelas calçadas, mas não vê alternativa, pois aquela é sua maneira de ganhar a vida. Sonha em ter seu lugar próprio de trabalho, um lugar só dela, onde poderá atender seus clientes de melhor forma, sem ter que ouvir reclamação de ninguém.

Mesmo com tudo pelo que passou e ainda passa, Maria carrega consigo uma imensa felicidade, que é notada quando ela é vista realizando seu trabalho, chamando os passantes para experimentarem a salada com a vestimenta inspirada na personagem de Monteiro Lobato. O que realmente faz sucesso naquele conjunto você não sabe. Se é o sabor da salada, a vestimenta única da personagem ou o atendimento VIP dispensado a cada um de seus clientes. O que se sabe é que Emília conquista a todos com sua simpatia, seu jeito irreverente de ganhar a vida e sua maneira única de conquistar a clientela.

 

Apelidada de nega maluca antes de começar a se vestir assim, Maria já usava roupas chamativas, mas percebeu que outros vendedores começaram a copiar sua ideia e apareceram vestidos de forma parecida. Ela não se abalou com isso, começou, então, a se vestir de Emília para conquistar mais clientes, pois sabia que nenhum outro vendedor teria a mesma coragem e a vestimenta chamaria ainda mais a atenção. Hoje ela já é legalizada no SEBRAE e marca registrada.

 

Ela diz também que sonhava em ser atriz e quando criança pensava em quebrar a televisão, numa inocente tentativa de poder passar para dentro e, assim, realizar seu sonho de atuar e ser famosa e que isso influenciou na escolha da personagem.

Maria é a personificação da força de vontade e trabalho duro. Ela mostra que é possível vencer mesmo com as adversidades. A boneca de pano não só virou gente, mas transformou-se numa mulher de fibra, coragem e alegria de viver.

 

Paula Floriano

Foto: Paula Floriano

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