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A felicidade no sinal vermelho

“Eu sou o único louco da família, com certeza. Meus pais me apoiam, eles gostam de me ver feliz. Eu sou muito feliz assim”. 

Uma rua, um sinal vermelho e um sol escaldante. Para muitos, a fórmula do estresse. Mas ela não funciona com Juan Manuel Delgado (27), nascido em Rosário, cidade da província de Santa Fé, na Argentina. Ele colocou a mochila nas costas com destino ao Brasil no dia 2 de janeiro deste ano e hoje ganha a vida fazendo malabarismo no trânsito.

 

Nós o observamos de longe por um tempo. Ele adota sempre o mesmo roteiro. Na calçada, ergue uma das mãos para tapar o sol e ver o sinal com mais facilidade. No vermelho, é hora dos carros pararem, como uma plateia que se acomoda para apreciar um espetáculo ao ar livre. Para Juan, as cortinas se abrem e ele inicia o seu show.

 

Sempre com um sorriso no rosto, ele se coloca diante dos carros, cumprimenta os motoristas e começa a fazer malabarismo com três bolinhas. A faixa de pedestres ganha outras cores além do preto e do branco, já quase apagados no asfalto. Segundos depois, o sinal verde indica a hora de fechar as cortinas. Ele então recolhe as bolinhas, aplaude timidamente com as mãos acima da cabeça e sai por entre os carros para receber sua recompensa. Com algumas moedas a mais no bolso, ele volta para a calçada e já se prepara para o próximo número.

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O argentino se junta a outros 7,2 milhões de estrangeiros previstos pelo Ministério do Turismo para entrarem no Brasil em 2014, dentre outras razões, por causa da Copa do Mundo da FIFA: “eu queria viajar um tempo, vir para a Copa... O plano era terminar a faculdade e pegar uma viagem”, diz ele. Formado em engenharia elétrica desde outubro do ano passado, Juan conta que talvez siga a carreira de engenheiro quando voltar para a Argentina em setembro. Por enquanto, ele quer apenas aproveitar a viagem.

 

Seu irmão é engenheiro civil, sua mãe trabalha como bioquímica em um hospital em Rosário e seu pai também se formou em engenharia, mas nunca exerceu a profissão: “quando ele terminou a faculdade, não tinha trabalho como engenheiro em Rosário”, explica Juan. Seu pai começou a trabalhar como comerciante, vendendo comida, enquanto ele o ajudava fazendo entregas.

 

Antes de sair de Rosário, Juan trabalhou em um call center e em uma companhia de celular, por um ano. Quando chegou ao Brasil, passou dois meses vendendo comida na rua e na praia, até começar a fazer malabarismo no semáforo. No início, ele conta que passou por dificuldades, chegando a dormir na rodoviária de Mossoró-RN e a não ter o que comer. Ele demonstra carinho e gratidão ao falar das pessoas que o ajudaram: “muita gente no restaurante me dava comida, um prato de arroz, feijão, qualquer coisa”.

 

Os tempos difíceis ficaram para trás e hoje ele consegue se sustentar fazendo malabarismo. Sua jornada de trabalho começa às 9h e vai até o meio-dia, quando faz uma pausa para almoçar em um restaurante popular. Ele volta ao batente às 14h e encerra às 17h. Ao anoitecer, janta um hambúrguer ou um cachorro-quente perto da subida da Ponte, no Alto de São Manoel, e vai dormir na Pousada Santa Luzia, no Centro da cidade. 

Segundo Juan, Mossoró é um dos lugares onde ele ganha mais dinheiro como malabarista. Ao final do expediente, ele chega a arrecadar cerca de R$150,00, podendo chegar a R$200,00, dependendo do dia. Apesar da aceitação e receptividade, ainda existe o preconceito por parte de algumas pessoas: “Nunca tive problema nenhum com a polícia, mas tem muita gente que sobe a janela do carro quando você se aproxima, tranca as portas, ou só abre um pouco para dar uma moeda”, revela ele. O medo das pessoas também se justifica pelo número de assaltos ocorridos em Mossoró.

 

Juan diz que compreende as atitudes dessas pessoas: “a rua está difícil, perigosa. Então veem alguém fazendo malabarismo na rua e também pensam que é perigoso, pensam que sou ladrão. Mas eu rio disso, não me preocupo, não me afeta”, encerra ele, sempre com muito bom humor.

 

O maior sonho de Juan é conhecer o mundo inteiro, poder viajar por tudo que é canto. Quando nós o perguntamos o que seus pais acham disso, ele diz: “Eu sou o único louco da família, com certeza. Meus pais me apoiam, eles gostam de me ver feliz. Eu sou muito feliz assim”. Alguém duvida?

Ygo Prudêncio

Fotos: Paula Floriano

Foto: Paula Floriano

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